terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Humanóides de Plástico

Tenho falado durante meu sono. Todos os sonhos têm mostrado o pecado e o desejo. Eu não estou louco, só um pouco enfraquecido. Todas as pessoas, bem, elas não são interessantes. Suas vidas superficiais, suas rotinas doentias onde se acomodaram, isso não é nada encantador. Todas as mentes quebradas, rompidas e reprimidas pela ditadura das ideologias humanas. Todos os países livres e suas ilusões. Já foram criadas as leis para poder sobreviver e onde está a liberdade em meio a isso tudo? Existem mais pessoas sábias do que imaginam, mas algumas estão presas dentro de uma bolha. Às vezes, os números significam mais do que pensamentos. Todos os planos de mudar o mundo. Nossos planos. Aonde isso tudo vai parar, se não existem forças para lutar por eles? De cabeça baixa, procuramos evitar encarar o que nos atinge, o que nos trás medo. Porém, isso não passa de mais uma ideologia. Eu sei, tudo poderia ser diferente. E não é. Mas isso não torna ninguém menor do que outro. Todos são importantes. Todos. Mesmo tornando tantas vezes a mente como um refugio, ninguém pode viver sozinho. Só que em hipótese alguma, devemos baixar a cabeça. O que deve haver é respeito, apenas isso. Mas ninguém tem o direito de diminuir um outro alguém. Pessoas feitas de plástico, por favor, não se esqueçam de que a vida é muito mais do que cotidianos e sorrisos momentâneos. A vida é feita de sonhos a serem realizados. Vontades a serem agarradas. Tristezas a serem engolidas pelo passado. Eu desejo ardentemente que a nossa bolha estoure. Que todo esse plástico e fibra sintética dê lugar ao nosso verdadeiro corpo e alma.

sábado, 18 de setembro de 2010

Poesia Pagã lll

Estava tão quente, porém as mãos de Leslie estavam geladas. Paul se aproximou, sorrindo. E a partir disso, prometeu a si mesma que seu coração, para sempre, seria dele. O rosto dele costumava sempre ficar um pouco rosado quando ela estava perto. Costumavam ficar embaixo daquela árvore conversando por horas e horas. Até que um dia seus rostos ficaram tão próximos um do outro que seus lábios se tocaram. O corpo dela paralisou totalmente, seu coração acelerou em seu peito e quase perdeu todo seu ar. Tudo o que ela sentia, começou a fazer sentido. Ela o amava. Após esse dia, nunca se separavam. Aonde ele ia, a levava, aonde ela ia, o levava. Tudo parecia perfeito. Porém, o que ela mais temia aconteceu. Ele tinha que partir. Leslie não conseguia mais dormir, pensando que nunca mais o veria novamente. Sozinha, chorava muitas vezes trancada no quarto de sua avó. Por uma semana não apareceu no lugar onde sempre se encontravam. Ele tentava vê-la, jogava pedrinhas em sua janela, mas ela não aparecia. Como já era o esperado, finalmente chegou o dia que ele partiria. Leslie começou a pensar que mais dolorido que vê-lo partir, seria deixa-lo ir sem ao menos ter dito o quanto o amava e quanta falta ele iria lhe fazer. Então, levantou-se e correu...Correu...Correu até a estação onde o trem estava chegando. Lá estava Paul, usando um paletó cinza-escuro, quase pronto para entrar naquele vagão. Leslie gritou, ele virou-se e olhou para ela. Seus olhos brilharam ao vê-la e, assim como da primeira vez, sorriu. Ela caminhou para perto, olhou fixamente nos olhos dele e disse: "Eu te amo. E mesmo se você realmente partir agora, eu nunca, nunca na minha vida inteira, irei me esquecer do seu olhar, do seu sorriso e de todas as coisas maravilhosas que passei ao seu lado. Sempre terá um pedaço de mim com você." Ele se aproximou um pouco mais e sussurrou no ouvido dela... "Só me prometa uma coisa. Seja sempre minha."... e beijou-a. O beijo nunca havia sido tão doce, mas ao mesmo tempo, o coração dela era tomado por uma imensa dor. Ele se afastou, e se foi. O trem acelerou, até sumir completamente de vista. Os olhos de Leslie, cheios de lágrimas, e uma frase jogada ao vento... "Eu sempre serei sua."

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dama de Copas

Encontrei seus sentimentos que estavam escondidos debaixo do tapete persa. Logo agora, nesse momento meio mórbido, meio fraco dos meus dias inquietos.
Decepção não seria a palavra certa, pois este já é um assunto encerrado. O que eu admiro é a sua doença, a maior de todas, o que eu chamaria de "Síndrome do Desgaste". Onde você se depara com o cansaço e a falta de interesse, simplesmente desiste e vai embora. Essa sua doença é psicológica e terminal. Provavelmente a culpa está nas cartas. A culpa é da Dama de Copas, que fez você perder todo o seu dinheiro e fama.
A Dama de Copas foi culpada em querer sentir o calor de suas mãos. O problema é sua admiração pela palavra Amor. E o significado? Nem tanto. É difícil acreditar enquanto todos apenas querem um pouco mais de diversão. O problema, também, é a sua falta de encanto. A Dama de Copas é apenas mais uma carta naquele imenso baralho, sem nenhum destaque. E assim, pode-se retornar a "Síndrome do Desgaste", porque, na verdade, essa doença não está contida apenas em você. Está contida em toda a rotina, está contida na falta de novidade que envolve essa carta.
É desgastante a falta de amor entre as pessoas. E o seu desgaste corroeu metade do seu cérebro, atingindo todas as lembranças que envolviam a tal Dama de Copas. Esta é uma carta muito frágil, dobrável e meticulosa.
De tão triste que só, obrigou-se a arrancar seu próprio coração com as unhas. E era de toda compreensão, a destruição do passado, do significado mais próximo de "Amor" que ela havia visto, que não fora platônico. Era tão forte, que apenas a fumaça escura que sobe e some, poderia fazê-la esquecer. E assim, fora dissolvido, diluído e evaporado. Como se jamais houvesse existido.
A Dama de Copas usa armadura, pela qual esconde seu frágil coração. Porém, após toda neblina e fumaça, ela ainda não sente-se capaz de deixar-se levar pela sociedade dos falsos poetas e parar, de uma vez por todas, de tentar entender o verdadeiro significado da palavra "Amor", pois já esteve tão perto...tão perto.

sábado, 21 de agosto de 2010

TV em cores

Foi-se o tempo da caverna
Inteligência flutuante e dor interna
Flores de plástico e sorriso elástico
Vai e volta, entre um "Bom Dia" e uma "Boa Tarde"
E durante a noite, arde
Arde no sigilo, bem dentro do peito

Enquanto meu corpo descansa em leito
Abelhas rodeando minha mente
Transformam o fel em mel
O bruto em claro
Óleo quente

Não posso mais negar
tal brilho dissimulado em meu olhar
É ele, apenas ele agora
Será que isso realmente importa?
Ou, talvez, vá embora

Como se atreve?
São minhas promessas se despedaçando
É só ele, apenas ele
Dois segundos, está começando
Está combinado, será assim até o fim
Até o fim do dia, da semana, temporada
Não importa, pensar assim me deixa cansada

Quanta vergonha, ora essa
Mas tudo bem, estou sem pressa
Chegue mais perto agora
Vamos observar as árvores balançadas pelo vento lá fora
Eu só preciso que me ouça falar
Palavras vazias que enchem o tempo, tentando cativar

E aqui vou eu, escolhendo flores para o meu jardim
Cor-de-rosa e alecrim
Só para ele gostar e colher de minha alegria
Meus abraços e minha companhia

Vou escolher uma TV à cores e o sofá mais confortável
É apenas ele e minha timidez, tentando ser amável
É, apenas ele por hoje.

domingo, 1 de agosto de 2010

Bom Te Ver

Cabelos enrolados caídos sobre a pia
Esmalte vermelho-fosco descascando
Então, encontro-me andando
Entre fotografias e digitais em meus lençóis
Teu gosto, batom rosa-claro nas dobras do papel
Nossas ruas, talheres, imagens, deixadas ao fel

Bem-te-vi, bom te ver
Vá, voar bem longe daqui
Torna-te lindo contra o Sol
Não hei de ofuscar o teu ser

Beijos ardentes que não ardem
É mentira, mentira que não desperta ira
Tampouco agrada
Não te atrevas a acomodar-te em minha calçada
Está claro que nem ao menos prossegue interessada
Sua comodidade é a minha também

Bem-te-vi, bom te ver
Já cumpriu teu dever
Dispersou nossos dias cinzas
Fez sorrir, fez dançar
Agora vá, pode voar

Mostrei-te esse novo mundo
Era um enorme oceano e mergulhamos fundo
Essa estrada sequer nos pertence
Mas têm sido dias tão adoráveis
Agora, brota amor em minhas horas improváveis

Bem-te-vi, bom te ver
Agradeço-te pelo vasto calor
É tão oblíquo e amável
Afasta meus olhares sem cor

Posso afirmar-te sem rancor:
Bem-te-vi, bom te ver
Permaneça por mais algumas horas
E não te deixes abater, deixe o meu Sol te aquecer

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sem surpresas, por favor.

Tanto tempo demorei para conseguir andar até a porta e sair. Pensei em continuar te guardando na minha gaveta empoeirada. Mas acabou. Acabaram-se os sonhos, as chances, a espera. Você conseguiu levar tudo o que cabia entre seus braços, onde eu costumava estar. Está tudo paralizado, meio dolorido. Então, aqui estou, queimando documentos e fotografias. Transformando memórias em cinzas. É como se nunca houvesse existido, algo tão grande assim. Você e eu, não estamos mais aqui. Não estamos na plataforma escura. Não estamos observando as luzes da cidade. Não gostamos de Shakespeare, nem ao menos estamos bebendo Batida de morango. Tudo o que eu preciso é... qualquer coisa além de você. Eu não preciso relembrar nossos dias, isso apenas me deixaria magoada. Você não me deixou falar, quando eu mais precisava gritar bem alto. Eu tentei ser grande, mas você recusou em me deixar crescer. Colocou-me na jaula do leão. Quase fui engolida, junto com minhas lamentações. Não resta mais nada do que foi nosso, pois o "nosso" se foi. Foi-se junto com o seu "para sempre", junto com as minhas últimas respostas engasgadas. Não apareça mais, não toque no assunto. Não tente arrancar minhas cicatrizes com suas unhas. A plataforma agora é apenas mais um lugar por onde caminho observando as pessoas, imaginando dê onde vieram, para onde vão. Apenas imagino, elas estão mais perto de mim do que qualquer outra coisa que eu possa imaginar, relacionada ao "nosso". Então, este, sim, é o último "nosso". O "nosso" fim.

domingo, 25 de julho de 2010

Dilacerado

As pessoas, às vezes, são como pombos. Empoleiram-se, depois voam para longe. Voam de volta para seus lares. E eu, ali continuo, esperando meus olhos cansados e minhas mãos começarem a enrugar. Sinto-me tão impotente, tão futilmente arrasada.
Meu lugar nunca foi e nunca será aqui. Aqui, continuarei sendo uma desconhecida, um pombo empoleirado para sempre.
Meu copo vazio, o gosto de álcool nas bordas. Minhas mãos geladas e o silêncio local. Ainda há cinco anos pela frente, até a comodidade invadir minhas entranhas e fazer-me permanecer aqui. E tudo aquilo se tornará mais uma de minhas ilusões. Então, encontrarei muitas companhias, muitos ouvidos atentos, para depois queimá-los vivos. Depois, chegarão a decepção e o desapontamento, que serão minhas novas companhias.
Pessoas fizeram-me odiar o meu mal necessário. Talvez eu precisasse de algum tipo de isolamento. Os lugares estão sempre tão cheios de gente...
As lembranças e os caminhos errados me trouxeram até aqui. E aqui permaneço. Até as coisas terminarem de apodrecer.

domingo, 11 de julho de 2010

Sorriso de Domingo

Enquanto a bela sinfonia saudava-nos em tons alternados
Lentamente, rapidamente, dois-pra-lá, dois-pra-cá
Você me balançava, de um lado para o outro
Me guiava. Meus pés quase sem tocar o chão. Eu estava flutuando em seus braços.
O seu dia foi meu. Os seus dias foram meus por inúmeras vezes, mas este, em especial, foi esplêndido.
Uma melodia italiana aquecendo a minha noite
Seus dedos pressionados contra a minha pele, tremendo
Passos improvisados em dois-pra-lá, dois-pra-cá
No aconchego da canção, deitei meu rosto em seus ombros
O Lá sustenido deixou muito a desejar. E chegou ao fim.
Silêncio.
Talvez mais alguma outra dança, quem sabe?
Porém, acordei.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Viver, Planejar e Sonhar.

Algumas coisas simplesmente surgem apenas para serem passageiras... E vão embora, levadas pelo tempo, pelo destino. Mas... Destino? Eu não acredito nisso. Não mais. Destino é algo que as pessoas inventam, tentando concretizar o que possuem em suas vidas, tentando torná-las mais importantes. Porque se o que possuem, foi trazido pelo destino, elas permanecem para sempre, teoricamente. Mas isso não existe. Nem destino, nem sorte. Real mesmo, são apenas as oportunidades e o empenho que você coloca naquilo que quer. Porém, nunca deve depender-se de um outro alguém. As pessoas possuem focos diferenciados. "Viva sua vida intensamente" parece uma frase tão clichê, mas é tão verdadeira. Enquanto nos mantemos em algum relacionamento, parece que nada mais importa, é tudo maravilhoso, porque você está ao lado de quem ama. E então, quando acaba, não há mais nada em volta, apenas você e a droga da sua depressão.
Depois de tantas experiências decepcionantes, eu fiz a lição de casa e aprendi que existem coisas tão importantes quanto "amores" ou, talvez, até mais importantes. Eu tenho pensado muito no meu futuro e em como eu realmente odiaria ter algo me prendendo aqui. Eu quero ser livre, quero viajar para bem longe daqui, conhecer pessoas novas, virar uma escritora conhecida, falar alemão fluentemente e trabalhar em Berlim. É, tenho mesmo muitos sonhos. Parecem bem individualistas. E são! Quero ser independente, quero ir além do que jamais fui, porque eu sei que sou capaz. Eu sempre fui capaz de conseguir o que eu desejasse, do fundo do meu coração. A única coisa que preciso fazer, é nunca deixar que alguém me derrube, porque eu sei que muitos tentarão. E assim que eu conseguir atingir meus sonhos, vou começar a pensar novamente em construir uma vida plena ao lado de alguém. É claro que muitas coisas podem acontecer antes disso, muitas pessoas passarão pela minha vida, algumas permanecerão, mas isso é outra história. Só sei que devemos aceitar todas as pessoas que entram em nossas vidas com uma enorme placa de "Bem Vindos", porque já fui surpreendidas por muitos que eu não apostaria nem um centavo de que se tornariam tão importantes para mim um dia. E devemos ter uma placa dentro do bolso, de "Mantenham a Distância", porque sempre existirão, também, pessoas que serão apenas "cones" em nossas vidas, que não servirão para nada ou apenas estarão ali para atrapalharem nossos planos. Essas devem ser mantidas bem longe!
Ainda tenho tanto a aprender, mas de uma coisa eu sei: Jamais construa sonhos em volta de um outro alguém, pois, assim como você, possui sonhos e planos que podem estar indo em direção contrária aos seus. Ame seus objetivos. AND BE HAPPY, DUDE.

domingo, 27 de junho de 2010

Tempo Em Dois

Por dias cansativos passei. Pensamentos ordinários e olhares buscando respostas em papéis de carta.
Eu precisei entender, estávamos em tempos errados. E nosso tempo acabou.
Pequei ao pensar que nossos sonhos eram os mesmos. Enquanto eu buscava rosas vermelhas, você encontrou uma enorme ponte de concreto e caminhou por ela.
E você ainda consegue sorrir para mim, todos os dias. Trazendo-me tortas de amora. Seu sorriso mecânico é de tão elevado ego. Quase irreconhecível.
Talvez eu ainda fosse capaz de morrer por você. É, provavelmente eu morreria. Não pelo mesmo amor, mas pelo meu coração de manteiga.
Amor em mim não falta, amor por você não falta. O que prometo, se torna real.
Eu prometi esquecer.
Sua presença não importa mais. Uma parte de mim você já levou.
E eu odeio você. E tudo o que você faz. E todas as pessoas com quem você conversa. E todos os sapatos que você usa.
Agora a história do amor esquecido... Continuará assim.
A culpa é extremamente sua e dos seus estúpidos discos.
Mas olhe e surpreenda-se: Eu estou bem agora.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Observar Para Sempre

No céu, observei todas as flores que brilhavam e mantiam meus olhos abertos, fixados.
Deixei minha taça derramar sangue pelo seu vasto coração.
E vou me lembrar vagamente de algo que em algum tempo, por mais efêmero que fosse, foi amor.
Olhei pela sua janela e vi sua alma no horizonte, se despedaçando, desesperada por liberdade.
Seus olhos que invadem meus segredos, suas mãos que invadem minha pele... Na minha mente como um vidro embaçado pelo vapor.
Pela fechadura, observo seus sonhos. É o único momento que posso estar e observar, observar para sempre.
Embalei minha memória em sacos plásticos.
No final de tudo, nada se tornou.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Morrissey me entenderia

Cante uma música para mim
Uma para que eu possa dormir
Sem pensar em mais nada
Apenas ouvindo você cantar.

Morrissey me entenderia
Morrissey cantaria para mim
Ele olha a sua volta e vê exatamente o que vejo
Um mundo perdido, onde passarinhos não voam mais
Flores não nascem e o céu se torna cada vez mais escuro.

Mas Morrissey, continue cantando
Deixe minha caixinha de música aberta
Para espantar os sonhos ruins.

Sua majestosa voz
Seu balanço, de um lado para o outro
Eu posso sentir, posso sentir a melodia penetrando meu quente coração.

Agora você se foi e me deixou sozinha
Nesse mundo enorme e sombrio
Não consigo ouvir a música
Não consigo dormir.

Sei que apenas Morrissey me entenderia.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Cotidiano Tão Nosso

Eu ficarei surpresa quando você aparecer, desenrolando novelos de assuntos. E eu não vou ter interesse algum em tudo o que você falar, mas ouvirei atentamente o som da sua voz. E vou sentir meu coração saindo pela boca, toda vez que nos encontrarmos. E fecharei os olhos poucas vezes, por medo de abri-los e descobrir que nós fomos feitos de sonho. E vou tremer de frio, apenas para sentir seus braços, tentando me aquecer. E contarei algumas piadas sem graça, tentando puxar assunto. E ficarei em silêncio algumas vezes, só para não pensar em mais nada, além da sua presença. E vou colher estrelas para colocá-las no seu quarto, quando estiver com medo do escuro. E acharei que com todos os nossos defeitos, somos perfeitos. E me casarei com você. E tentarei ser mais paciente. E teremos que dividir o controle da tv. E você vai me provocar. E não deixarei você esquecer o quanto sou louca por você. E vou brigar com você, por não querer fazer aulas de dança comigo. E você vai brigar comigo, por ficar emburrada quando você for encontrar seus amigos. E às vezes eu fumarei escondida, mas deixarei o cheiro dentro de casa, só para te irritar e ver você fazendo "aquela cara". E passaremos por tempos difíceis, mas sempre juntos. E quando tudo passar, seremos mais fortes. E vamos envelhecer. E discutiremos sobre como realmente nos conhecemos na adolescencia. E teremos milhões de histórias que ninguém irá ouvir. E eu lhe direi boa noite. E começaremos tudo de novo.

A Cura

Não há mais dor, não há mais alucinações. Agora a doença se foi, eu obtive a cura através do que estava nutrido no meu coração de tartaruga. Agora teria me tornado uma pedra no fundo de um oceano, se não fosse por você. Mas parece que permaneci na era medieval, enquanto você vive em tempos modernos.
Eu ainda consigo ver as luzes, elas me disseram que tenho uma ponte a construir. E sei que não será nada fácil, farei isso sozinha. Queria chegar em casa e te encontrar para dizer o quando estou melhor, que nas minhas veias agora corre apenas a vontade de sorrir sem temer novamente.
O tempo não soube me esperar, mas ele não pode me destruir, porque não quero perder mais nenhum segundo, recuperando todos que perdi enquanto você tentava me acordar.
É quase insuportável, irritante, ver a situação à qual me coloquei. Porque eu tinha a minha cura, eu tinha você, só não soube enxergar a tempo.

2009, Dezembro.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O burro e os sentimentos

Caminhando pelas ruas, tão cheias de tudo, tranquei-me em meu silêncio.
Certo momento, possuí um desejo ardente de ser a mulher com uma flor entre os cabelos, andando em sua bicicleta.
Sua existência era única, suas tranquilas feições relatavam paz.
Eu não desejava sua vida, desejava o calor abstinente da minha.

Na minha boca, o repugnante gosto de uma fuga.
A desordem e o cinismo ao meu redor.
Pior, apenas a aceitação de causas perdidas.
O conformismo despedaçando-me em dois.

Burros somos nós, apaixonados pelos sentidos. O que dá forças, o que dá sabor, o que promove sonhos. O suposto eterno.
Inteligentes são vossas senhorias. Sozinhos dizem-se mais capazes.
Suponho que manter os pés no chão, possuindo sentimentos e amores diários seja uma escolha provida de muita inteligência.

Desculpem-me pela minha inveja e sarcasmo escancarado.
Acho interessante as teorias primatas de quem se envolve em milhares de páginas de um livro diariamente.
Ironicamente, nunca precisei de sequer uma estrofe para encontrar minhas respostas.
Ainda invejo a inteligência de quem casou-se com o vazio.

Dentro do vagão, meu destino se aproximava.
Minha casa não é o meu lar.
O meu lugar está entre as grandes e rochosas montanhas verdes.
Eu estava lá e lá permaneci. De onde jamais deveria ter partido.

O concreto se foi, o abstrato ficou.
Nisso me apego, conforto tragado.
Sinto a paz da mulher em sua bicicleta.
Eu havia guardado algo maior para o meu final.

Todas as águas não foram em vão.
Todos os erros, aprendidos.
E aqui deixo apenas uma lágrima para o vínculo que não foi perdido.
O amor não corrompido.
O burro e os sentimentos não esquecidos.
Aqui está a minha paz.

Poesia Pagã II

Leslie sentia seu coração bater rapidamente ao ver Paul se aproximar. Ficaram tão próximos que era possível sentirem a respiração um do outro. Ela estava comendo uma maçã, enquanto ele olhava fixamente para os lábios carnudos da garotinha. Ela sabia o quanto Paul era encantado por sua pele branca como a neve, seus cabelos negros como a noite, e por suas sapatilhas de boneca. Ele tremia, não conseguia mais se controlar... Sem pensar, agarrou Leslie e beijou-a de forma que poderia se perder o fôlego. A boca dela ainda estava doce por conta da maçã e seus gelados dedos tocaram levemente o rosto quente dele. Ela mordia o pescoço de Paul atrevidamente e isso o enlouquecia. O silêncio da casa vazia foi tomado por suspiros e provocantes palavras sussurradas. Eles sabiam que aquilo era errado, porém apenas ajudou a se tornar um pecado cada vez mais ardente e incontrolável...

Poesia Pagã I

Cheguei em casa e escutei música alta vinda da vitrola, que ficava na estante do meu quarto. Minha esposa estava no clube de costuras e não poderia haver ninguém alí, a não ser... Leslie, minha sobrinha. Subi as escadas e parei em frente à porta fechada, com receio e um pouco nervoso, bati algumas vezes na porta e de repente ela abriu, vestindo uma camisola azul celeste. Perguntei à ela o que fazia alí com aquela música tão alta. Então, puxou-me para dentro do quarto e trancou novamente a porta. Subiu na cama e começou a pular, espalhando um pouco de terra pelo lençou limpo, por conta de sua sapatinha que usava pela manhã, enquanto brincava com sua poodle de estimação. Pedi à ela que as tirasse, e em seguida me respondeu, em tom de deboche, para que eu fizesse isso por ela. Sentei na beirada da cama e ela apoiou o pé no meu colo. Segurei-o delicadamente, tirando sua sapatilha e olhando para sua perna, de pele tão branca. Logo depois, Leslie continuou a pular e dizia para eu fazer isso com ela. Mas não, eu não queria... Não devia. Então, abaixou-se e sussurrou no meu ouvido esquerdo, paravras como "Venha comigo. Vou cuidar de você, proteger você. Calma, acalme-se...". Senti algo que nunca havia sentido antes, um arrepio que subia pela minha espinha e eu suava frio. Vendo minha reação, a mocinha dos cabelos ondulados começou a rir e se jogou na cama. Para ela, aquilo era uma diversão. Para mim, a perdição. Levantei-me e falei em tom alto e firme, para ela se arrumar, pois minha esposa já estava para chegar e o jantar seria servido. Olhou para mim como se estivesse irritada com a minha atitude e saiu, trancando-se no banheiro. E eu fiquei alí, no quarto, parado, pensando no que havia me metido. Os pais dela haviam morrido há três meses, e eu não poderia deixar a filha de minha irmã, desamparada em algum orfanato. Ela saiu do banho com a toalha enrolada na cabeça e um vestidinho branco rendado. Estava na hora do jantar, ela sentou-se na cadeira ao lado e soltou os cabelos, que balançavam levando um certo perfume de flores ao meu olfato aguçado. Cada um de seus fios de cabelo, ainda molhados, umedeceram seus ombros, revelando pelo vestido, a alça de sua lingerie cor-de-rosa. Aquela mocinha estava me fazendo perder a cabeça. Eu me sentia um louco, um monstro. Mas minha respiração ofegava quando ela se aproximava com todo seu jeito, mais doce que cristais de açúcar. Eu ainda amava minha esposa. Afinal, estavamos juntos há sete anos. Porém, minha cabeça, meu corpo, meus sentidos, estavam me deixando completamente confuso e desesperado. Aquilo estava errado, muito errado. Da pior maneira possível. Mas... Como eu queria...


Baseado em: Come To Me - Björk