quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sem Escrúpulos

Por que essa saudade toda, dona mocinha?
Ele não tem uma vida plena, nem honestidade.
Não tem senso de humor, nem alacridade.

Ele não tem carro, nem lar.
Não tem chão, nem mar.

Ele é do tipo bandido. Cigarro e navalha na mão.
Ele é do tipo cafajeste. Sem dinheiro e cu na mão.

Por que essa vontade toda, dona mocinha?
Ele não gosta de Jazz, nem sabe seduzir.
Não sabe rezar, nem costuma sorrir.

Ele não tem lucidez, nem prudência.
Não tem lei, nem clemência.

Ele é do tipo cowboy. Pistola no bolso, calçando botina.
Ele é do tipo marginal. Viola roubada, cheirando cocaína.

Por que essa choradeira toda, dona mocinha?
Ele não é dono da verdade, nem tem certidão.
Não pagou as contas, nem sabe onde suas jóias estão.

Ele não tem terra, nem seguro.
Não tem passado, nem futuro.

Ele é do tipo malandro. Cinco putas e uma trepada ruim.
Ele é do tipo inconsequente. Álcool e sangue no botequim.

Então, me diga, dona mocinha.
Por que ainda não foi viver sozinha?

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Tempo De Crescer

O pior de tudo em crescer, é descobrir que super heróis não existem, muito menos o Papai Noel, muito menos máquina do tempo. E o tempo continua rodando...Ele só vai para frente. Nada volta. E você continua envelhecendo... Mas ninguém vê, você é apenas mais um. Você cava, cava, cava e descobre no meio do caminho que não vai conseguir chegar ao Japão assim. Os sonhos vão se desfazendo, virando a poeira que lhe causa alergia. E onde foi parar toda aquela alegria? Raios de Sol, lápis de cor, bolo de chocolate. A realidade é outra. Você pega seu carro, contas bancárias, coloca o lixo para fora, toma um café amargo e se pergunta em que momento da sua vida você parou de comer os Sucrilhos no café da manhã. E, no final do dia, quando encosta sua cabeça no travesseiro, sabe que o dia seguinte tende a ser igual. A menos que...Você tenha que dar uma passada na lavanderia e buscar seu terno para a reunião de quinta-feira.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Não era para ela estar comigo. De alguma forma, atraí para perto.
Está aqui e trouxe paixão ardente consigo. Toda vez que reaparece, toma fôlego e sorri, na esperança de encher meu peito de conforto. Mas a agonia volta, no momento em que vai embora. Ela se vai e deixa vestígios de beijos, os quais nunca dei.
Deveria estar ao lado de um casal apaixonado, que de tanto olhar me arde os olhos.
Abro mão dessa nossa menina, só para ver mais de perto a felicidade que nunca será minha.
Mesmo sabendo que não tocarei novamente, os braços que por tantos dias, me ajudaram a levantar a carga que insiste em deitar-se sobre meus ombros.
Vá, menina. Mesmo doendo tanto saber que não verei seus cachos descendo pelo corpo, como as ondas da maré que resolveram trazê-la até mim.
Vá, menina. E leve o homem que desmancha minhas certezas, quando aparece ao lado de quem ocupa um lugar que foi meu. Mesmo sem saber, se por algum instante sequer, fiz da maneira certa, o que devia fazer.
Vá, minha menina. Envolva em alegria, o casal mais bonito que a natureza plantou.
E meu corpo que fique distante, desse sentimento intenso que algum vento malcriado deixou.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Uma Pequena Prece

Crisântemos  e anjos ao seu redor.
Acenei em sua direção, porém você achou que era um adeus.
Está cada vez mais longe...
Peço a Aparecida que cuide de seu jardim, para que nunca seque. Que cuide de seu lar, para que permaneça iluminado. Que cuide de seus olhos, para que nunca se rendam à cegueira. Que cuide de sua alma, para que sempre esteja em paz.
Peço-lhe perdão pelo coração que seguro, apertado, em minhas mãos.
Sou feita de amor, quase que por inteira.
E o amor nem sempre é suficiente. Repito isso algumas vezes dentro de mim, mas, então, esbarro em você.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Íris

Gira mais uma vez e tua saia contorna o vento.
Nos vários tons escarlate e amarelo, veste a cigana de pé na areia.
Profundo olhar, encara minh'alma e arranca o tormento.
Brilha íris mais que raios de Sol ao meio dia.
Ofuscante raio que preenche o peito.

Sara Kali ouviu nossa prece.
E não irá regredir.
Destino que leva ao infinito horizonte
Joga rosas em teu caminho.


Brilha, brilha tua íris e vê coração desamarrado.
Desprende do que ficou na antiga caravana de madeira.
Sente a dança de mãos entrelaçadas.
Brilha enquanto este cigano reverencia teu encanto.

Pela santa glória que invade teu sangue cor da terra
Ajuda agora, em tua volta, teus irmãos.
E será recordada até o fim da linha dos tempos.
Enquanto cigano agradece, verá
Estrelas brilhando para te contemplar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Negação

Não há nada de errado nesse romance italiano
Se foi culpa da Lua, não sei
Senti as mãos quentes
E meu rosto cor-de-rosa.
A imaginação flutuando sobre nossas vidas
Continuamente.

Eu me equivoquei, mas devo admitir:
É platônico pensar em ti
Não adianta negar
É nele que meus olhos pousam
Quando meu coração perde o controle

Enquanto o Sol dorme
E a rua fica deserta
Lá está ele, virando a esquina
Várias e várias vezes... Não.
Bastou uma noite

Moça solitária, olhando pela janela
Entre as árvores, continua procurando
Sente o perfume que o vento traz
É ele.

Engulo minha poesia
Ela está aí, eu posso ver
Tomou seu caminho antes do nosso
Não há ninguém aqui
É só minha tolice

A intuição não bastou
E observo de canto
O meu amor passar.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Julieta de Março

Meus olhos castanhos-sem-vida e minha falta de etiqueta perante a mesa de jantar, não me deixaram viver um pouco mais daquele sonho britânico.
Encontrei um relógio de bolso, anunciando meia noite. Março acabou. Viramos abóbora.
A mudança de estação e o ar seco, levaram embora qualquer tipo de chance de conseguir abrir a minha janela e encontrar Romeu tocando uma serenata. Nenhum rapariga engoliria cianeto por mim, muito menos me daria motivos para largar a bebida.
Sob as estrelas e a lua minguante, Romeu torna-se inofensivo.
Olhou para o mar, olhou para a folhagem balançando, olhou para o meu vestido azul marinho.
Tocou o meu céu, tocou minhas mãos, tocou um sentimento guardado bem dentro de mim.
Eu amo seus olhos aparentemente cansados e minha ideia fixa de que posso ver certo brilho neles, quando nossos rostos se aproximam.
Mas eu me esqueço... Março acabou. Como são os cabelos e a cor das unhas de sua nova Julieta? Você também costuma dizer que morreria por ela? E em julho? Continuará proseando tão dramaticamente sobre seu novo amor?
Haverão mais algumas Capuletos até o final do ano.
De uma forma ou de outra, é uma ideia certamente masoquista, saber que é setembro e Julieta tem olhos azuis.