segunda-feira, 20 de junho de 2011

Como Se Manter Vivo

Existem pessoas em todas as partes do planeta realizando os sonhos que você tem. Enquanto coloca sua cabeça dentro de um refrigerador, para ver se a dor passa. E vê tudo se passando diante de seus olhos, como um filme. Dias ruins, dias bons. Porém sempre a mesma coisa. É como estar preso em um filme mudo, preto e branco, enquanto pessoas fazem parte de um enorme espetáculo de ficção cientifica. E o medo de estar enlouquecendo sobe por toda sua espinha dorsal. Enquanto ouve Joy Division com uma garrafa de pinga barata na mão. A noite se torna a pior hora de sua vida, quando deveria encontrar abrigo durante a inconsciência do sono e recuperar todas as energias que perdeu durante um dia difícil. Mas os fantasmas gostam de se divertir e deixá-lo perturbado, com dúvidas até sobre o certo e o errado. Não sei mais o que é isso. Até onde posso ir sem matar uma parte de mim. Então, me torno: Vazio, vazio, imparcialidade e frio. A correnteza me leva para onde o rio é selvagem e isso ainda irá me afogar. Na realidade, não me importo. Já sei o modo como vou morrer. É o que me move e me seca, me move e me pára. Evoluir e regredir, minha rotina diária. E todos os meus carmas estão nela. Devo ter escolhido tudo isso antes de encarnar nesse corpo frágil. No final dessa vida, todas as respostas estarão respondidas.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Amélia das Asas Lúgubres I

Descansava meus joelhos após um longo dia de andanças. Ele apareceu ao lado de minha cama, olhava dentro dos meus olhos, como se desvendasse todos os meus segredos e me conhecesse há mais anos do que tenho em vida. Acreditei ser um sonho, fechei os olhos com força e os abri novamente. Ele ainda estava lá, constatei que era real. Branco como uma folha de papel, olhos azuis, cabelos loiros, não usava camisa, mesmo com aquele frio cortante. Ele era o homem mais bonito que eu havia visto. E não era a primeira vez que o via. Em meus sonhos, ele sempre estava lá. Então, me disse para não temê-lo, pois não me faria mal algum. Pedi para apresentar-se como realmente era, se quisesse que confiasse em suas palavras. Deu um sorriso pouco malicioso e lá estava. Uma sombra cinzenta deitou-se sobre mim. Duas asas negras, quase maiores que seu próprio corpo, se abriram.
Certa vez, confidenciei à minha prima sobre os sonhos que tinha com aquele homem. Ela me disse que se tratava de um anjo e que eu deveria perguntar seu nome sete vezes para ele me responder. Quando fui perguntar-lhe a primeira vez, ele me interrompeu dizendo:
- Por favor, não faça isso.. Sei que quer saber quem sou, mas peço-lhe que confie em mim. Eu conheço a senhorita desde sempre.
Levantando de minha cama e ficando eu lado dele, perguntei:
- Você é um anjo, não é? Meu anjo da guarda.
- Sou um anjo caído. - respondeu-me aproximando seu rosto e me fazendo perceber como seus olhos me seduziam... - Confie em mim, confie em mim... Venha comigo, você é como sou. - acrescentou enquanto encolhia suas asas e me envolvia em seus braços. Seus lábios tocaram os meus, senti um leve gosto de  uma tristeza tocando minha alma como um efêmero calafrio. Ele apertava minhas costas contra o corpo dele, fazendo-me sentir um calor quase insuportável, porém não sentia vontade de interrompê-lo, queria mais e mais...
Após lentamente afastar-se de mim, começou a observar-me e sussurrou algo como "Sua hora chegou". Nesse mesmo momento, senti como se enfiassem mil lâminas através de meu corpo e comecei a gritar. Ele segurou-me em seus braços novamente e tive a sensação da dor começar a passar. Ouvi o barulho da porta se abrindo. Era meu pai. Vendo aquele homem desconhecido comigo, virou as costas rapidamente. Eu sabia que ele estava indo buscar sua espingarda. Olhei para o anjo e segurei-o pelo braço, puxando-o até a porta da cozinha, enquanto pegava a chave reserva dentro de uma vasilha de biscoitos. Escutei meu pai se aproximando com seus dois capatazes, avistaram-nos e apontaram suas armas para o anjo, que abriu suas duas enormes asas, fazendo os dois valentes homens de meu pai caíram no chão, amedrontados. "É um demônio!", gritaram, mas meu pai nem ao menos se mexeu. Continuou apontando sua espingarda, sem medo algum. O anjo virou-se para mim e disse:
- Você precisa confiar em mim agora. - respondi com a cabeça que sim. - Corra o mais rápido que puder.
Começamos a correr enquanto ouvi alguns tiros e meu pai gritando sobre eu ter feito "pacto com o diabo". Subimos a ribanceira e ele me disse "Não tema, Amélia!", senti certo receio, mas quando percebi, havíamos saltado sobre o despenhadeiro. O anjo segurou meu ombro esquerdo e senti uma enorme dor nas costas que deram lugar a duas enormes asas negras, como as dele.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Museu da Praça

Certo dia, nós acabaremos nos enterrando vivos. Somos pássaros cantando em uma gaiola aberta. Temos a liberdade, mas ainda acreditamos que a felicidade está dentro de uma caixa preta. Ninguém sabe o quanto caminhamos até aqui. Pessoas falam sobre um tempo que parece nunca chegar, mas na verdade, ele está perto. Nós que não abrimos a porta para ele.
O homem de cartola nos machucou e, para nós, ele sempre dizia que era inofensivo.
As coisas parecem tão difíceis, tão impossíveis... No passado, por causa da nossa ingenuidade, era fácil acreditar nessas coisas ou acreditar que dois corações poderiam compartilhar os mesmos batimentos. Isso nunca existiu, eram apenas falsas promessas. Não se promete o que não se cumpre, porque isso é apenas criar ilusões e pode machucar de uma forma irreversível.
Somos jovens, queremos ver o amanhecer do Sol todos os dias, queremos sorrir, queremos conhecer pessoas novas e fazer parte de um novo mundo. Mas ainda moramos em um museu. E esse museu possui enormes máquinas de tortura, onde o chão é feito de lama e amargura.