quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sinfonia de Liszt

Madalena dos cabelos enrolados e cor de caramelo. Olhos redondos e vestido rendado. Ouvia a Primavera chegando ao som de um violino Stradivarius. A distância de sua cama até o livreto repousado na janela, que possuía a partitura de Liebestraum, era infinita aos olhos de Mad e seus pés cansados a prendiam em leito. Seu pai encontra-se na casa de repouso, tuberculoso. Resta-lhe o piano e Liebestraum. A doença é fatal e Mad está sozinha. Olhando para o salão, lembra-se das festividades organizadas por seu pai. Não há nada de novo. Ser a única herdeira atrai cobiça. Atrai os homens e suas armas. Madalena enxerga uma parede branca quando tiram-lhe a venda dos olhos. Seu pai não pagou cada centavo de sua dívida, agora seus bens seriam levados pelo Estado. Tudo ao redor de Mad começa a tornar-se branco como a parede que havia visto. O homem de gravada afrouxada que segura a arma sente cheiro de talco e leite de rosas, pouco antes de puxar o gatilho. Pobre Madalena, ajoelha-se com suas pernas aos prantos, estica seus braços finos e coloca-os em seus ouvido, prendendo a respiração, em uma tentativa de não sentir a bala atravessando seu corpo. O homem sente uma leve misericórdia pela menina, quando olha para o alto e vê a imagem da virgem Maria amarrada na parede por um arame. A arma é disparada e o peito de Mad é perfurado, como se fosse uma frágil folha de papel. Não houve tempo para a dor se manifestar, a falta de ar é seguida pela inconsciência e a elevação do espírito frustrado e inocente de Madalena.

domingo, 3 de abril de 2011

Op. 10 no. 3

Robert,
Recebi sua carta esta manhã. Você mandou-me a folha em branco. Eu me lembro, nós havíamos combinado que quando não houvesse mais palavras de amor para dizer-me, você apenas me mandaria folhas em branco, para pelo menos saber que estaria bem. Então, aqui está, sua primeira folha branca em minhas mãos. Eu previ que isso aconteceria. Luto para não esquecer de como costumávamos ser, como me abraçava enquanto fazíamos planos sobre o nosso futuro. Sempre acreditei que o nosso "para sempre" se tornaria real, mas eu sou apenas uma sonhadora. Já se passou um ano desde que você partiu e agora vejo que a distância foi capaz de destruir o que sentia. A distância e talvez algo mais. Dói saber que eu ainda tinha esperanças de que estava esperando por mim, assim como eu esperei por você. Eu estou confusa. Não me arrependo do tempo que te amei, mas é lamentável a forma de como isso se foi. No fim eu não era tão magnífica assim. Aqui é escuro e solitário, deste outro lado, longe de você. Sinto tantas saudades, eu percebo que o destino fracassa sem você.