domingo, 27 de junho de 2010

Tempo Em Dois

Por dias cansativos passei. Pensamentos ordinários e olhares buscando respostas em papéis de carta.
Eu precisei entender, estávamos em tempos errados. E nosso tempo acabou.
Pequei ao pensar que nossos sonhos eram os mesmos. Enquanto eu buscava rosas vermelhas, você encontrou uma enorme ponte de concreto e caminhou por ela.
E você ainda consegue sorrir para mim, todos os dias. Trazendo-me tortas de amora. Seu sorriso mecânico é de tão elevado ego. Quase irreconhecível.
Talvez eu ainda fosse capaz de morrer por você. É, provavelmente eu morreria. Não pelo mesmo amor, mas pelo meu coração de manteiga.
Amor em mim não falta, amor por você não falta. O que prometo, se torna real.
Eu prometi esquecer.
Sua presença não importa mais. Uma parte de mim você já levou.
E eu odeio você. E tudo o que você faz. E todas as pessoas com quem você conversa. E todos os sapatos que você usa.
Agora a história do amor esquecido... Continuará assim.
A culpa é extremamente sua e dos seus estúpidos discos.
Mas olhe e surpreenda-se: Eu estou bem agora.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Observar Para Sempre

No céu, observei todas as flores que brilhavam e mantiam meus olhos abertos, fixados.
Deixei minha taça derramar sangue pelo seu vasto coração.
E vou me lembrar vagamente de algo que em algum tempo, por mais efêmero que fosse, foi amor.
Olhei pela sua janela e vi sua alma no horizonte, se despedaçando, desesperada por liberdade.
Seus olhos que invadem meus segredos, suas mãos que invadem minha pele... Na minha mente como um vidro embaçado pelo vapor.
Pela fechadura, observo seus sonhos. É o único momento que posso estar e observar, observar para sempre.
Embalei minha memória em sacos plásticos.
No final de tudo, nada se tornou.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Morrissey me entenderia

Cante uma música para mim
Uma para que eu possa dormir
Sem pensar em mais nada
Apenas ouvindo você cantar.

Morrissey me entenderia
Morrissey cantaria para mim
Ele olha a sua volta e vê exatamente o que vejo
Um mundo perdido, onde passarinhos não voam mais
Flores não nascem e o céu se torna cada vez mais escuro.

Mas Morrissey, continue cantando
Deixe minha caixinha de música aberta
Para espantar os sonhos ruins.

Sua majestosa voz
Seu balanço, de um lado para o outro
Eu posso sentir, posso sentir a melodia penetrando meu quente coração.

Agora você se foi e me deixou sozinha
Nesse mundo enorme e sombrio
Não consigo ouvir a música
Não consigo dormir.

Sei que apenas Morrissey me entenderia.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Cotidiano Tão Nosso

Eu ficarei surpresa quando você aparecer, desenrolando novelos de assuntos. E eu não vou ter interesse algum em tudo o que você falar, mas ouvirei atentamente o som da sua voz. E vou sentir meu coração saindo pela boca, toda vez que nos encontrarmos. E fecharei os olhos poucas vezes, por medo de abri-los e descobrir que nós fomos feitos de sonho. E vou tremer de frio, apenas para sentir seus braços, tentando me aquecer. E contarei algumas piadas sem graça, tentando puxar assunto. E ficarei em silêncio algumas vezes, só para não pensar em mais nada, além da sua presença. E vou colher estrelas para colocá-las no seu quarto, quando estiver com medo do escuro. E acharei que com todos os nossos defeitos, somos perfeitos. E me casarei com você. E tentarei ser mais paciente. E teremos que dividir o controle da tv. E você vai me provocar. E não deixarei você esquecer o quanto sou louca por você. E vou brigar com você, por não querer fazer aulas de dança comigo. E você vai brigar comigo, por ficar emburrada quando você for encontrar seus amigos. E às vezes eu fumarei escondida, mas deixarei o cheiro dentro de casa, só para te irritar e ver você fazendo "aquela cara". E passaremos por tempos difíceis, mas sempre juntos. E quando tudo passar, seremos mais fortes. E vamos envelhecer. E discutiremos sobre como realmente nos conhecemos na adolescencia. E teremos milhões de histórias que ninguém irá ouvir. E eu lhe direi boa noite. E começaremos tudo de novo.

A Cura

Não há mais dor, não há mais alucinações. Agora a doença se foi, eu obtive a cura através do que estava nutrido no meu coração de tartaruga. Agora teria me tornado uma pedra no fundo de um oceano, se não fosse por você. Mas parece que permaneci na era medieval, enquanto você vive em tempos modernos.
Eu ainda consigo ver as luzes, elas me disseram que tenho uma ponte a construir. E sei que não será nada fácil, farei isso sozinha. Queria chegar em casa e te encontrar para dizer o quando estou melhor, que nas minhas veias agora corre apenas a vontade de sorrir sem temer novamente.
O tempo não soube me esperar, mas ele não pode me destruir, porque não quero perder mais nenhum segundo, recuperando todos que perdi enquanto você tentava me acordar.
É quase insuportável, irritante, ver a situação à qual me coloquei. Porque eu tinha a minha cura, eu tinha você, só não soube enxergar a tempo.

2009, Dezembro.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O burro e os sentimentos

Caminhando pelas ruas, tão cheias de tudo, tranquei-me em meu silêncio.
Certo momento, possuí um desejo ardente de ser a mulher com uma flor entre os cabelos, andando em sua bicicleta.
Sua existência era única, suas tranquilas feições relatavam paz.
Eu não desejava sua vida, desejava o calor abstinente da minha.

Na minha boca, o repugnante gosto de uma fuga.
A desordem e o cinismo ao meu redor.
Pior, apenas a aceitação de causas perdidas.
O conformismo despedaçando-me em dois.

Burros somos nós, apaixonados pelos sentidos. O que dá forças, o que dá sabor, o que promove sonhos. O suposto eterno.
Inteligentes são vossas senhorias. Sozinhos dizem-se mais capazes.
Suponho que manter os pés no chão, possuindo sentimentos e amores diários seja uma escolha provida de muita inteligência.

Desculpem-me pela minha inveja e sarcasmo escancarado.
Acho interessante as teorias primatas de quem se envolve em milhares de páginas de um livro diariamente.
Ironicamente, nunca precisei de sequer uma estrofe para encontrar minhas respostas.
Ainda invejo a inteligência de quem casou-se com o vazio.

Dentro do vagão, meu destino se aproximava.
Minha casa não é o meu lar.
O meu lugar está entre as grandes e rochosas montanhas verdes.
Eu estava lá e lá permaneci. De onde jamais deveria ter partido.

O concreto se foi, o abstrato ficou.
Nisso me apego, conforto tragado.
Sinto a paz da mulher em sua bicicleta.
Eu havia guardado algo maior para o meu final.

Todas as águas não foram em vão.
Todos os erros, aprendidos.
E aqui deixo apenas uma lágrima para o vínculo que não foi perdido.
O amor não corrompido.
O burro e os sentimentos não esquecidos.
Aqui está a minha paz.

Poesia Pagã II

Leslie sentia seu coração bater rapidamente ao ver Paul se aproximar. Ficaram tão próximos que era possível sentirem a respiração um do outro. Ela estava comendo uma maçã, enquanto ele olhava fixamente para os lábios carnudos da garotinha. Ela sabia o quanto Paul era encantado por sua pele branca como a neve, seus cabelos negros como a noite, e por suas sapatilhas de boneca. Ele tremia, não conseguia mais se controlar... Sem pensar, agarrou Leslie e beijou-a de forma que poderia se perder o fôlego. A boca dela ainda estava doce por conta da maçã e seus gelados dedos tocaram levemente o rosto quente dele. Ela mordia o pescoço de Paul atrevidamente e isso o enlouquecia. O silêncio da casa vazia foi tomado por suspiros e provocantes palavras sussurradas. Eles sabiam que aquilo era errado, porém apenas ajudou a se tornar um pecado cada vez mais ardente e incontrolável...

Poesia Pagã I

Cheguei em casa e escutei música alta vinda da vitrola, que ficava na estante do meu quarto. Minha esposa estava no clube de costuras e não poderia haver ninguém alí, a não ser... Leslie, minha sobrinha. Subi as escadas e parei em frente à porta fechada, com receio e um pouco nervoso, bati algumas vezes na porta e de repente ela abriu, vestindo uma camisola azul celeste. Perguntei à ela o que fazia alí com aquela música tão alta. Então, puxou-me para dentro do quarto e trancou novamente a porta. Subiu na cama e começou a pular, espalhando um pouco de terra pelo lençou limpo, por conta de sua sapatinha que usava pela manhã, enquanto brincava com sua poodle de estimação. Pedi à ela que as tirasse, e em seguida me respondeu, em tom de deboche, para que eu fizesse isso por ela. Sentei na beirada da cama e ela apoiou o pé no meu colo. Segurei-o delicadamente, tirando sua sapatilha e olhando para sua perna, de pele tão branca. Logo depois, Leslie continuou a pular e dizia para eu fazer isso com ela. Mas não, eu não queria... Não devia. Então, abaixou-se e sussurrou no meu ouvido esquerdo, paravras como "Venha comigo. Vou cuidar de você, proteger você. Calma, acalme-se...". Senti algo que nunca havia sentido antes, um arrepio que subia pela minha espinha e eu suava frio. Vendo minha reação, a mocinha dos cabelos ondulados começou a rir e se jogou na cama. Para ela, aquilo era uma diversão. Para mim, a perdição. Levantei-me e falei em tom alto e firme, para ela se arrumar, pois minha esposa já estava para chegar e o jantar seria servido. Olhou para mim como se estivesse irritada com a minha atitude e saiu, trancando-se no banheiro. E eu fiquei alí, no quarto, parado, pensando no que havia me metido. Os pais dela haviam morrido há três meses, e eu não poderia deixar a filha de minha irmã, desamparada em algum orfanato. Ela saiu do banho com a toalha enrolada na cabeça e um vestidinho branco rendado. Estava na hora do jantar, ela sentou-se na cadeira ao lado e soltou os cabelos, que balançavam levando um certo perfume de flores ao meu olfato aguçado. Cada um de seus fios de cabelo, ainda molhados, umedeceram seus ombros, revelando pelo vestido, a alça de sua lingerie cor-de-rosa. Aquela mocinha estava me fazendo perder a cabeça. Eu me sentia um louco, um monstro. Mas minha respiração ofegava quando ela se aproximava com todo seu jeito, mais doce que cristais de açúcar. Eu ainda amava minha esposa. Afinal, estavamos juntos há sete anos. Porém, minha cabeça, meu corpo, meus sentidos, estavam me deixando completamente confuso e desesperado. Aquilo estava errado, muito errado. Da pior maneira possível. Mas... Como eu queria...


Baseado em: Come To Me - Björk