sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Tempo De Crescer

O pior de tudo em crescer, é descobrir que super heróis não existem, muito menos o Papai Noel, muito menos máquina do tempo. E o tempo continua rodando...Ele só vai para frente. Nada volta. E você continua envelhecendo... Mas ninguém vê, você é apenas mais um. Você cava, cava, cava e descobre no meio do caminho que não vai conseguir chegar ao Japão assim. Os sonhos vão se desfazendo, virando a poeira que lhe causa alergia. E onde foi parar toda aquela alegria? Raios de Sol, lápis de cor, bolo de chocolate. A realidade é outra. Você pega seu carro, contas bancárias, coloca o lixo para fora, toma um café amargo e se pergunta em que momento da sua vida você parou de comer os Sucrilhos no café da manhã. E, no final do dia, quando encosta sua cabeça no travesseiro, sabe que o dia seguinte tende a ser igual. A menos que...Você tenha que dar uma passada na lavanderia e buscar seu terno para a reunião de quinta-feira.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Não era para ela estar comigo. De alguma forma, atraí para perto.
Está aqui e trouxe paixão ardente consigo. Toda vez que reaparece, toma fôlego e sorri, na esperança de encher meu peito de conforto. Mas a agonia volta, no momento em que vai embora. Ela se vai e deixa vestígios de beijos, os quais nunca dei.
Deveria estar ao lado de um casal apaixonado, que de tanto olhar me arde os olhos.
Abro mão dessa nossa menina, só para ver mais de perto a felicidade que nunca será minha.
Mesmo sabendo que não tocarei novamente, os braços que por tantos dias, me ajudaram a levantar a carga que insiste em deitar-se sobre meus ombros.
Vá, menina. Mesmo doendo tanto saber que não verei seus cachos descendo pelo corpo, como as ondas da maré que resolveram trazê-la até mim.
Vá, menina. E leve o homem que desmancha minhas certezas, quando aparece ao lado de quem ocupa um lugar que foi meu. Mesmo sem saber, se por algum instante sequer, fiz da maneira certa, o que devia fazer.
Vá, minha menina. Envolva em alegria, o casal mais bonito que a natureza plantou.
E meu corpo que fique distante, desse sentimento intenso que algum vento malcriado deixou.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Uma Pequena Prece

Crisântemos  e anjos ao seu redor.
Acenei em sua direção, porém você achou que era um adeus.
Está cada vez mais longe...
Peço a Aparecida que cuide de seu jardim, para que nunca seque. Que cuide de seu lar, para que permaneça iluminado. Que cuide de seus olhos, para que nunca se rendam à cegueira. Que cuide de sua alma, para que sempre esteja em paz.
Peço-lhe perdão pelo coração que seguro, apertado, em minhas mãos.
Sou feita de amor, quase que por inteira.
E o amor nem sempre é suficiente. Repito isso algumas vezes dentro de mim, mas, então, esbarro em você.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Íris

Gira mais uma vez e tua saia contorna o vento.
Nos vários tons escarlate e amarelo, veste a cigana de pé na areia.
Profundo olhar, encara minh'alma e arranca o tormento.
Brilha íris mais que raios de Sol ao meio dia.
Ofuscante raio que preenche o peito.

Sara Kali ouviu nossa prece.
E não irá regredir.
Destino que leva ao infinito horizonte
Joga rosas em teu caminho.


Brilha, brilha tua íris e vê coração desamarrado.
Desprende do que ficou na antiga caravana de madeira.
Sente a dança de mãos entrelaçadas.
Brilha enquanto este cigano reverencia teu encanto.

Pela santa glória que invade teu sangue cor da terra
Ajuda agora, em tua volta, teus irmãos.
E será recordada até o fim da linha dos tempos.
Enquanto cigano agradece, verá
Estrelas brilhando para te contemplar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Negação

Não há nada de errado nesse romance italiano
Se foi culpa da Lua, não sei
Senti as mãos quentes
E meu rosto cor-de-rosa.
A imaginação flutuando sobre nossas vidas
Continuamente.

Eu me equivoquei, mas devo admitir:
É platônico pensar em ti
Não adianta negar
É nele que meus olhos pousam
Quando meu coração perde o controle

Enquanto o Sol dorme
E a rua fica deserta
Lá está ele, virando a esquina
Várias e várias vezes... Não.
Bastou uma noite

Moça solitária, olhando pela janela
Entre as árvores, continua procurando
Sente o perfume que o vento traz
É ele.

Engulo minha poesia
Ela está aí, eu posso ver
Tomou seu caminho antes do nosso
Não há ninguém aqui
É só minha tolice

A intuição não bastou
E observo de canto
O meu amor passar.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Julieta de Março

Meus olhos castanhos-sem-vida e minha falta de etiqueta perante a mesa de jantar, não me deixaram viver um pouco mais daquele sonho britânico.
Encontrei um relógio de bolso, anunciando meia noite. Março acabou. Viramos abóbora.
A mudança de estação e o ar seco, levaram embora qualquer tipo de chance de conseguir abrir a minha janela e encontrar Romeu tocando uma serenata. Nenhum rapariga engoliria cianeto por mim, muito menos me daria motivos para largar a bebida.
Sob as estrelas e a lua minguante, Romeu torna-se inofensivo.
Olhou para o mar, olhou para a folhagem balançando, olhou para o meu vestido azul marinho.
Tocou o meu céu, tocou minhas mãos, tocou um sentimento guardado bem dentro de mim.
Eu amo seus olhos aparentemente cansados e minha ideia fixa de que posso ver certo brilho neles, quando nossos rostos se aproximam.
Mas eu me esqueço... Março acabou. Como são os cabelos e a cor das unhas de sua nova Julieta? Você também costuma dizer que morreria por ela? E em julho? Continuará proseando tão dramaticamente sobre seu novo amor?
Haverão mais algumas Capuletos até o final do ano.
De uma forma ou de outra, é uma ideia certamente masoquista, saber que é setembro e Julieta tem olhos azuis.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Luz Divina

Sinto como se o peso do mundo estivesse sobre meus ombros. Eu quero que a minha fé seja mais forte do que qualquer coisa. Não quero pensar que tudo esteja realmente perdido e não há salvação, não há volta. Quero mudar o mundo em muitas maneiras, mas todos possuem livre arbítrio e estou sozinha desse lado do universo. Sinto-me mais protegida há cada dia que passa, mas não é o bastante para mim. Porque sei que o que tenho não é um dom individual. Foi feito para se dividir e é derivado da caridade. Sem caridade, não há amor. E Deus ama a todos igualmente. Mas as pessoas não rezam mais. E tudo continua decaindo. O mundo continua perdendo sua fé em Deus, mas Deus nunca perderá sua fé no mundo. Talvez, as pessoas que ainda acreditam na recuperação desse mundo doente, sejam como pequenos focos de luz. A pequena chama de uma vela consegue iluminar em meio de grande escuridão.

"O Sol que ilumina nossas cabeças, não ilumina o coração. O coração tem que ser maior que isso."

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Como Se Manter Vivo

Existem pessoas em todas as partes do planeta realizando os sonhos que você tem. Enquanto coloca sua cabeça dentro de um refrigerador, para ver se a dor passa. E vê tudo se passando diante de seus olhos, como um filme. Dias ruins, dias bons. Porém sempre a mesma coisa. É como estar preso em um filme mudo, preto e branco, enquanto pessoas fazem parte de um enorme espetáculo de ficção cientifica. E o medo de estar enlouquecendo sobe por toda sua espinha dorsal. Enquanto ouve Joy Division com uma garrafa de pinga barata na mão. A noite se torna a pior hora de sua vida, quando deveria encontrar abrigo durante a inconsciência do sono e recuperar todas as energias que perdeu durante um dia difícil. Mas os fantasmas gostam de se divertir e deixá-lo perturbado, com dúvidas até sobre o certo e o errado. Não sei mais o que é isso. Até onde posso ir sem matar uma parte de mim. Então, me torno: Vazio, vazio, imparcialidade e frio. A correnteza me leva para onde o rio é selvagem e isso ainda irá me afogar. Na realidade, não me importo. Já sei o modo como vou morrer. É o que me move e me seca, me move e me pára. Evoluir e regredir, minha rotina diária. E todos os meus carmas estão nela. Devo ter escolhido tudo isso antes de encarnar nesse corpo frágil. No final dessa vida, todas as respostas estarão respondidas.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Amélia das Asas Lúgubres I

Descansava meus joelhos após um longo dia de andanças. Ele apareceu ao lado de minha cama, olhava dentro dos meus olhos, como se desvendasse todos os meus segredos e me conhecesse há mais anos do que tenho em vida. Acreditei ser um sonho, fechei os olhos com força e os abri novamente. Ele ainda estava lá, constatei que era real. Branco como uma folha de papel, olhos azuis, cabelos loiros, não usava camisa, mesmo com aquele frio cortante. Ele era o homem mais bonito que eu havia visto. E não era a primeira vez que o via. Em meus sonhos, ele sempre estava lá. Então, me disse para não temê-lo, pois não me faria mal algum. Pedi para apresentar-se como realmente era, se quisesse que confiasse em suas palavras. Deu um sorriso pouco malicioso e lá estava. Uma sombra cinzenta deitou-se sobre mim. Duas asas negras, quase maiores que seu próprio corpo, se abriram.
Certa vez, confidenciei à minha prima sobre os sonhos que tinha com aquele homem. Ela me disse que se tratava de um anjo e que eu deveria perguntar seu nome sete vezes para ele me responder. Quando fui perguntar-lhe a primeira vez, ele me interrompeu dizendo:
- Por favor, não faça isso.. Sei que quer saber quem sou, mas peço-lhe que confie em mim. Eu conheço a senhorita desde sempre.
Levantando de minha cama e ficando eu lado dele, perguntei:
- Você é um anjo, não é? Meu anjo da guarda.
- Sou um anjo caído. - respondeu-me aproximando seu rosto e me fazendo perceber como seus olhos me seduziam... - Confie em mim, confie em mim... Venha comigo, você é como sou. - acrescentou enquanto encolhia suas asas e me envolvia em seus braços. Seus lábios tocaram os meus, senti um leve gosto de  uma tristeza tocando minha alma como um efêmero calafrio. Ele apertava minhas costas contra o corpo dele, fazendo-me sentir um calor quase insuportável, porém não sentia vontade de interrompê-lo, queria mais e mais...
Após lentamente afastar-se de mim, começou a observar-me e sussurrou algo como "Sua hora chegou". Nesse mesmo momento, senti como se enfiassem mil lâminas através de meu corpo e comecei a gritar. Ele segurou-me em seus braços novamente e tive a sensação da dor começar a passar. Ouvi o barulho da porta se abrindo. Era meu pai. Vendo aquele homem desconhecido comigo, virou as costas rapidamente. Eu sabia que ele estava indo buscar sua espingarda. Olhei para o anjo e segurei-o pelo braço, puxando-o até a porta da cozinha, enquanto pegava a chave reserva dentro de uma vasilha de biscoitos. Escutei meu pai se aproximando com seus dois capatazes, avistaram-nos e apontaram suas armas para o anjo, que abriu suas duas enormes asas, fazendo os dois valentes homens de meu pai caíram no chão, amedrontados. "É um demônio!", gritaram, mas meu pai nem ao menos se mexeu. Continuou apontando sua espingarda, sem medo algum. O anjo virou-se para mim e disse:
- Você precisa confiar em mim agora. - respondi com a cabeça que sim. - Corra o mais rápido que puder.
Começamos a correr enquanto ouvi alguns tiros e meu pai gritando sobre eu ter feito "pacto com o diabo". Subimos a ribanceira e ele me disse "Não tema, Amélia!", senti certo receio, mas quando percebi, havíamos saltado sobre o despenhadeiro. O anjo segurou meu ombro esquerdo e senti uma enorme dor nas costas que deram lugar a duas enormes asas negras, como as dele.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Museu da Praça

Certo dia, nós acabaremos nos enterrando vivos. Somos pássaros cantando em uma gaiola aberta. Temos a liberdade, mas ainda acreditamos que a felicidade está dentro de uma caixa preta. Ninguém sabe o quanto caminhamos até aqui. Pessoas falam sobre um tempo que parece nunca chegar, mas na verdade, ele está perto. Nós que não abrimos a porta para ele.
O homem de cartola nos machucou e, para nós, ele sempre dizia que era inofensivo.
As coisas parecem tão difíceis, tão impossíveis... No passado, por causa da nossa ingenuidade, era fácil acreditar nessas coisas ou acreditar que dois corações poderiam compartilhar os mesmos batimentos. Isso nunca existiu, eram apenas falsas promessas. Não se promete o que não se cumpre, porque isso é apenas criar ilusões e pode machucar de uma forma irreversível.
Somos jovens, queremos ver o amanhecer do Sol todos os dias, queremos sorrir, queremos conhecer pessoas novas e fazer parte de um novo mundo. Mas ainda moramos em um museu. E esse museu possui enormes máquinas de tortura, onde o chão é feito de lama e amargura.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Registro Geral

Aquela sensação frustrante de se deitar no piso gelado e ainda não ser o suficiente para fechar os olhos e tentar dormir pelo menos por um mês inteiro. Encosto minha cabeça e ouço passos em falso. Sei que é minha mente pregando-me peças novamente.
Aquela enorme vontade de usar minhas próprias mãos para cavar, cavar, até o centro da Terra. E lá me esconder até que algo reluza como ouro dentro de mim e me faça entender o sentido do porquê das pessoas irem e virem, sem uma eterna pausa. Mas não pode ser reluzente como bijuteria! Estou farta de falsas ideias e admiração de dois segundos. Tem que ser de ouro maciço, para pendurar no belo pescoço de uma dama chamada Realidade.
Lírios pretos para a minha cova, por favor. Gostava de lírios quando cheguei neste universo.
Eu tenho duas vidas em minhas mãos. Na verdade, três. Uma mais decadente que a outra. Não há equilíbrio para uma mulher-bebedora-de-whisky. Mais uma dose de mim, garçom, por favor. Mais uma dose dessa vida que nunca poderei viver, apesar do meu documento registrado no cartório sobre uma tal de "Lucy In The Sky". Uma farsa!
Eu não sei mais quantas máscaras e quantas torres continuarão ao meu redor e nem por quando tempo.
Os dias estão cada vez mais cinzentos e as noites, ensolaradas. E não consigo dormir. Olheiras enormes se formam e me perguntam o porquê de tanta caraminhola.
Não sei... Chega de amolação!
A morte é uma velha conhecida, mas nunca foi uma boa conselheira.
Tenho duas vidas e mais meia em minhas mãos. Preciso matar uma de mim para não deixar minhas olheiras se expandirem. A mais importante do mundo inteiro, só me pertence meia dela. Uso laços, beijos e prata para decorá-la. Mesmo não sendo o suficiente, rezo e faço uma boa ação por dia. Por mim e minha percentagem de vida.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sinfonia de Liszt

Madalena dos cabelos enrolados e cor de caramelo. Olhos redondos e vestido rendado. Ouvia a Primavera chegando ao som de um violino Stradivarius. A distância de sua cama até o livreto repousado na janela, que possuía a partitura de Liebestraum, era infinita aos olhos de Mad e seus pés cansados a prendiam em leito. Seu pai encontra-se na casa de repouso, tuberculoso. Resta-lhe o piano e Liebestraum. A doença é fatal e Mad está sozinha. Olhando para o salão, lembra-se das festividades organizadas por seu pai. Não há nada de novo. Ser a única herdeira atrai cobiça. Atrai os homens e suas armas. Madalena enxerga uma parede branca quando tiram-lhe a venda dos olhos. Seu pai não pagou cada centavo de sua dívida, agora seus bens seriam levados pelo Estado. Tudo ao redor de Mad começa a tornar-se branco como a parede que havia visto. O homem de gravada afrouxada que segura a arma sente cheiro de talco e leite de rosas, pouco antes de puxar o gatilho. Pobre Madalena, ajoelha-se com suas pernas aos prantos, estica seus braços finos e coloca-os em seus ouvido, prendendo a respiração, em uma tentativa de não sentir a bala atravessando seu corpo. O homem sente uma leve misericórdia pela menina, quando olha para o alto e vê a imagem da virgem Maria amarrada na parede por um arame. A arma é disparada e o peito de Mad é perfurado, como se fosse uma frágil folha de papel. Não houve tempo para a dor se manifestar, a falta de ar é seguida pela inconsciência e a elevação do espírito frustrado e inocente de Madalena.

domingo, 3 de abril de 2011

Op. 10 no. 3

Robert,
Recebi sua carta esta manhã. Você mandou-me a folha em branco. Eu me lembro, nós havíamos combinado que quando não houvesse mais palavras de amor para dizer-me, você apenas me mandaria folhas em branco, para pelo menos saber que estaria bem. Então, aqui está, sua primeira folha branca em minhas mãos. Eu previ que isso aconteceria. Luto para não esquecer de como costumávamos ser, como me abraçava enquanto fazíamos planos sobre o nosso futuro. Sempre acreditei que o nosso "para sempre" se tornaria real, mas eu sou apenas uma sonhadora. Já se passou um ano desde que você partiu e agora vejo que a distância foi capaz de destruir o que sentia. A distância e talvez algo mais. Dói saber que eu ainda tinha esperanças de que estava esperando por mim, assim como eu esperei por você. Eu estou confusa. Não me arrependo do tempo que te amei, mas é lamentável a forma de como isso se foi. No fim eu não era tão magnífica assim. Aqui é escuro e solitário, deste outro lado, longe de você. Sinto tantas saudades, eu percebo que o destino fracassa sem você.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Instante

Enquanto a chuva caía sobre a minha cabeça, só me lembro do quanto corri. O asfalto escorregadio me fez perder um sapato. Ando descalça pelas ruas por onde já brilhei.
Todo o meu rancor, ainda está aqui. Eu nunca pude ouvir as palavras que tanto aguardo e sei que nunca ouvirei.
Quantas vidas ainda serão divididas até o final do mundo?
Há cada segundo que passa, morro um pouco mais. Estou morrendo, morrendo...
Escondo meu egoísmo, mas é possível reconhecer a dor em meus olhos. O velho sábio me pergunta sobre o que continua me afligindo tanto. Não sei responder. A vida nunca foi tão generosa comigo e eu nunca fui tão ingrata.
Eu desapontei metade de quem amei e a outra metade insiste em acreditar em mim.
Não mudaria nada do que foi feito, não voltaria atrás. Eu apenas perdi parte do meu pulmão esquerdo. Está difícil conseguir respirar profundamente e dizer que está tudo muito bem. Por isso, minhas mágoas acabam sendo evidentes por meio de minhas vinganças. Meu sangue é tão frio quanto a chuva que ainda cai.
Essas serão as lembranças que guardarão de mim.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Crepúsculo de Nápoles I

Pela minha janela, espero por alguns minutos ela aparecer em sua sacada. São cinco horas da manhã. Ela sai para fumar seu tabaco matinal, cujo ela mesma enrola. Lá está. Eu a vi chegando nessa madrugada. Descalça, segurando seu scarpin na mão direita, tentando ajeitar os cabelos totalmente bagunçados e sujos. Ela ainda está com a maquilagem borrada, como se houvesse levado uma porrada nos seus olhos cansados. A noite foi longa. Cinco horas e quinze minutos. Ela entra em seu apartamento e busca uma xícara de café. Ela vira a xícara e a cafeína escorre pela rua. Deveria estar amargo, talvez frio. Ela apaga o cigarro e retorna ao apartamento. Escuto uma música. É "How Soon Is Now?", dos Smiths. "Eu sou humano e preciso ser amado, como todos precisam", diz Morrissey em sua canção. Ela precisa. Cinco horas e trinta e nove minutos. A música começa a tocar novamente e ela volta à sua sacada. Vestida com uma camisola branca, levemente molhada e acende mais um cigarro. Ninguém na rua. Ninguém a vê. Apenas eu, mas ela não sabe. Cinco horas e cinquenta minutos. Consigo ver o canto esquerdo de sua cama. Ela se joga e observo o esmalte preto nas unhas de seus pés. Acho que ela adormeceu. Seis horas da manhã. O Sol começa a brilhar, ela não.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sol de Janeiro

Minha perda de tempo foi tão longa.
Meus olhos, tão cegos.
Já me quebrei e me reconstruí várias vezes.
Já me perdi e destruí.
E então, vieram os tempos de chuva e neblina.
Lá estava eu e a minha sina.
Eu sei, era apenas a hora errada.
Pessoas erradas, partidas ao meio.

Eu sabia que o céu um dia deixaria de ser cinza.
Ele precisava ser azul, o azul mais bonito.
Você me trouxe a cor, uma flor e o meu amor.

Enquanto estiver por perto, eu vou ser sua.
E enquanto estiver longe, eu vou ser sua.
Eu serei sua até quando os dias permitirem.
Mesmo nas noites mais congelantes, meu quente coração derreterá todo o gelo.
Eu o tive por perto durante tantas primaveras, não sei como pude enxergar apenas hoje.
Mas desde hoje, até o fim, você vai possuir todas as coisas que eu mais quero.
Até o fim, o meu amor é todo seu.

Eu esperei por muito tempo, olhos verdes.